Monday, August 31, 2009

Moleskine: (3) - "Equívocos denominacionais"


“Todos têm o direito de crer, valorizar e defender pontos de vista estruturantes da sua denominação, e de defender um património histórico, desde que isso não os cegue para a evidência de que o Corpo de Cristo não se esgota nesses estritos limites.” - é, do meu ponto de vista, a síntese de todo o bom e útil artigo do Brissos Lino.

Acrescento: se divulgamos que Cristo é o centro, não no sentido do Cristocentrismo cósmico teilhardiano, mas no de Paulo ( Gálatas, 3,28), então as denominações (apesar das suas legítimas fundamentações históricas) são por natureza periféricas a esse Centro, Cristológico, e podem correr o risco de se perderem em algum buraco negro da órbita. (Nosso comentário no Facebook)

Ler artigo em A Ovelha Perdida

Saturday, August 29, 2009

Moleskine: (2)

Todo o homem tem, queira o não queira, um problema, ou melhor, O problema com Deus.
É do domínio da ontologia, da epistemologia e da teologia. Mas tudo isto, que são ciências humanas, pesquisas, equações para a resolução de O Problema, está aquém de Deus.
Todo o homem ao ter O problema com Deus, resolve-O a seu modo: uns convertem-se através de Cristo; outros, ignoram-no; outros ainda mais trágicos, suicidam-se. Há os que se justificam e escrevem livros: Saramago desde "O Evangelho..." até agora este novo «Caím», revela o que há muito se sabe, que tem um/O problema com Deus. E procurará sempre até à sua morte, justificar-se. Uma coisa é certa: Saramago não é ateu! Nem matou Deus.

Thursday, August 27, 2009

Moleskine: (1)

(Os) Codex Ephrem da Pós-Modernidade ( marca registada!). Os palimpsestos pós-modernos, as rectificações de doutrinas fundamentais, as releituras enviesadas da Bíblia, os Sartres, os Saramagos, etc. Mas também os autores que eu chamo de «culto» evangélicos, que escrevem sempre para Soli Deo Gloria. Prosas do século 20 e 21. Esboço para artigo/ensaio.
Não sei se vou ter paciência e instrumentos para raspar…

Monday, August 24, 2009

Mel: Cantos da memória

Mel, de Tonino Guerra, em dialecto romagnolo e italiano.

CANTO NONO (CANTÈDA NÓV)

Terá chovido durante cem dias e a água infiltrada
pelas raízes das ervas
chegou à biblioteca banhando as palavras santas
guardadas no convento.

Quando tornou o bom tempo,
Sajat-Novà o frade mais jovem
levou os livros todos por uma escada até ao telhado
e abriu-os ao sol para que o ar quente
enxugasse o papel molhado.

Um mês de boa estação passou
e o frade de joelhos no claustro
esperava dos livros um sinal de vida.
Uma manhã finalmente as páginas começaram
a ondular ligeiras no sopro do vento
parecia que tinha chegado um enxame aos telhados
e ele chorava porque os livros falavam.


O Mel, de Tonino Guerra, da Assírio & Alvim, Fevereiro de 2004, Trad.Mário Rui de Oliveira.

Saturday, August 22, 2009

A morte dos outros

Simone de Beauvoir escreveu um romance capital sobre as revoluções, os que mandam à frente os outros e acabam por sofrer da culpa do sangue que os outros derramam. É o Sangue dos Outros.
Ontem na praia Maria Luisa, foi a morte dos outros que aconteceu. Dentro da nossa capacidade de percepção, dentro da nossa redoma de vida, o que conhecemos da Morte é que Ela é sempre a do outro! É nesta perspectiva que sempre A podemos ver: "Não, não foi aqui. Foi em Albufeira." A Morte é sempre em outro lugar.

Isto vem a propósito da crónica que o meu amigo Jacinto Lourenço escreveu no seu blog. Aqui

Friday, August 21, 2009

O Fim da História e o Início dos Institutos Bíblicos

Em Confeitaria Cristã



Desde 1989, fala-se muito do fim da história. Desde que Francis Fukuyama pegou, política e sociologicamente, nos pedaços de cimento e ferros do Muro de Berlim. Já se disse também que a história não merece confiança absoluta, porque quem a escreve são apenas homens.
É nesta perspectiva que me coloco, entre a história dos princípios das Assembleias de Deus, sobretudo no Brasil, o fim dessa mesma história com o surgimento das ditas igrejas neo-pentecostais, e, passe a redundância, a instituição dos Institutos Bíblicos, nem sempre bem aceites pelo pensamento de alguns intervenientes dessa mesma história. Continuar aqui

Monday, August 17, 2009

"Não creia na Bíblia", mas na palavra do Profeta

Justificar completamenteBíblia de Estudo Batalha Espiritual & Vitória Financeira.
Dr. Morris Cerullo

"A Bíblia de Estudo Batalha Espiritual e Vitória Financeira foi projetada para levá-lo a uma nova posição de poder e vitória em todas as áreas da sua vida, embora o foco esteja em duas áreas: a batalha espiritual e a vitória financeira" - publicidade na Internet
«Assim têm surgido as bíblias disto e daquilo, para todos os gostos. Mas não me refiro a edições como a Bíblia da Mulher, Bíblia Teenager, Bíblia do Ministro, Bíblias de Estudo e outras do género, pois normalmente não são mais do que adequações da apresentação (formato, capa, tamanho de letra, destaques, mapas, tabelas, etc.) co m vista a públicos definidos.
Refiro-me a uma outra coisa, que se reveste de contornos de gravidade, e que entra no campo da manipulação e do abuso da boa fé das pessoas, tendo em conta a sua ignorância. Um dos últimos exemplos disto é a Bíblia da “Batalha espiritual e vitória financeira”, recheada de comentários altamente controversos (para não dizer pior) de Morris Cerullo, cuja propaganda afirma “Creia na palavra do Profeta de Deus”. Assim mesmo. O importante já não é crer na Palavra de Deus, mas na palavra de um homem que se intitula “Profeta de Deus” (com P maiúsculo, sim!). A Palavra de Deus foi substituída pela palavra do homem!…» Ler Aqui

Thursday, August 13, 2009

Jesus Bar-Abbâ

Tinha um rosto que já não temia nada, mesmo existindo poucas pessoas com vontade e heroísmo suficientes para lhe bater.
O seu corpo como um aríete talhado em rija madeira das acácias do Sinai, a sua tez escurecida tanto pelo sol do deserto como pelos luares, quando se escondia nas dobras da noite entre pedras nas estrada de Jericó para Jerusalém, os suas mãos que se meteram pela morte dentro, que a tratavam por tu, dissuadiriam qualquer afoito.

Até a sua voz, cava das profundidades dos pulmões, com o próprio som grave do seu nome. Apesar de induzir laços familiares, pois significava o «filho do pai». Era um nome que se impunha.

Por isso, mais uma sedição, menos uma, a sua reputação estava já estabelecida.
Exercia o terrorismo como uma linguagem de ferro para penetrar na cabeça do império romano, na dureza dos cérebros sob os capacetes dos legionários que ocupavam a Judeia.

Há muitos séculos, um pouco mais de mil- diziam os Livros-, houve os filisteus, mas bastaria um dos cinco seixos polidos e a funda de um pastor; agora eram os romanos, porém todos se acomodaram às armaduras de Roma.

Por tudo, mesmo na prisão, era um rosto que nada tinha a temer. Nem o seu nome temia mais impropérios do que aqueles que se ciciavam no medo, o seu nome não era próprio, era, a bem dizer, um título.
Filho fosse de quem fosse, seria uma pedra no sapato do equilíbrio que Sinédrio e a fortaleza Antónia queriam aparentemente manter.

E nesse meio-dia de sol encravado na aspereza da terra da Palestina, o desequilíbrio estava instalado, o balanço pendia para os lados da injustiça.

-É sempre assim na festa, uma substituição deveria ser o nome da Pessach(Páscoa judaica) - dizia um preso que, à parte o seu aspecto de rosto, corpo e roupas já no fio, parecia ter um pensamento próprio sobre certas coisas.

A troca, a substituição, era isso que se propunha à sanha da multidão acéfala e aos representantes da religião. Um inocente por um culpado.
Não parece que ao longo dos mais de vinte séculos que nos separam desse evento, do ponto de vista da justiça humana, as coisas tenham mudado muito.
Crónica para o Diário de Aveiro

Por que não sou neopentecostal

Aqui

«O neopentecostalismo é uma praga, uma verdadeira pandemia surgida nos meios cristãos, que tem arrastado multidões, enganadas e manipuladas por falsas promessas e doutrinas heréticas. Tem semelhança com o Cristianismo mas nega a sua essência. Essas auto-denominadas igrejas nãopassam de seitas neo-pagãs, de fachada cristã.»

Texto que adianta razões simples, da alma e da razão, da autoria do Pr.Brissos Lino.

Monday, August 10, 2009

O drama de um mito

Há 47 anos, em 5 de Agosto de 1962. Li nos jornais, na Costa da Caparica.

Marilyn Monroe

"made your lips more real with lipstick"
Allen Ginsberg

Tornas os teus lábios mais reais
Com baton, os teus lábios
Vermelhos
Engolem uma plateia
Cheia de olhos.

16/1/2008

Wednesday, August 05, 2009

A religião do socioeconómico

Por muito que procurem evidenciar o contrário na estrutura religiosa e popular do seu discurso, existem hoje «igrejas» que ao designarem-se como centros de ajuda espiritual, querem governar Deus. -«Vamos buscar esse Deus- proclamam-, preparem o copo de água».
Nos seus conceitos ditos cristãos, nem Deus, nem Jesus Cristo estão no centro da Revelação, a importância revelacional vai toda para o que é socioeconómico, para não falar de ícones periféricos ( isto é, copos de água, fogueiras santas, monte de Sinai, cruz de fogo, etc.), como transferências do profano para o sagrado ou a necessidade de uma presença «sagrada» visível e palpável, no dizer de Roger Caillois.

O que se tenta fazer, numa homilética manipuladora de massas normalmente carentes, umas, e outras ambiciosas, é a compatibilização do incompatível, teologia e ciência económica, cristianismo e mercado, espírito e matéria, Deus e Mamom.

Alguns desses líderes da ajuda espiritual contribuem, irreflectida e inconscientemente, para o pensamento do século XIX, de Ludwig Feuerbach, segundo o qual todos os conceitos de Deus são invenções humanas, sejam eles cristãos ou não, e se projectam das esperanças ou dos temores humanos.

O homem após ter-se perdido de Deus, «reencontrou-se» em si próprio, é o resultado em palavras simples a que a crítica religiosa de Feuerbach chega. O homem convencido da sua incapacidade de realizar, pelos próprios meios, a verdade, o bem, o amor, projecta esses atributos humanos para fora de si e cria um ser superior a que chama Deus. Assim, conclui o filósofo, esse Deus prejudica a boa vontade do homem.

Entre outras incursões, Feuerbach levou seu pensamento para o materialismo. E com este foi levado à crítica religiosa, e no entanto escreveu a sua obra máxima que foi A Essência do Cristianismo. Mas atenção, como se sabe, esta obra é uma crítica ao Cristianismo, com ela conseguiu fazer que Marx reformulasse o seu idealismo hegeliano e se mudasse para o trono do materialismo. A tal ponto que Engels, o amigo de Marx, saudou assim esse novo materialismo: «fora da natureza e dos homens nada há, e os seres superiores criados pela nossa imaginação religiosa não são mais do que o reflexo fantástico do nosso próprio ser.»
Esta essência do cristianismo não propunha Cristo nem uma teologia, propunha uma antropologia e o Homem no lugar da divindade. O ser humano projectando Deus.

Mesmo agora, uma ideia de Deus começa a tomar forma em vocábulos como «triunfar», «alcançar objectivos», «projectos» e «fé», como palavra mágica. Estes termos fazem parte do discurso, numa dicção suavemente carregada de sotaque das Américas. E pretendem que o Senhor fique às ordens de bispos, pastores, obreiros, que o tratam no mesmo tom de voz, como um Deus que se demove por dicções de pseudo-psicologistas, pelas palavras com lágrimas dentro, e não no sacrossanto Nome do Seu Filho Jesus Cristo.

Salvaguardadas as devidas proporções, porque longe de mim guindar tais centros religiosos à categoria de dotados intelectualmente, existem no entanto auto-designadas «igrejas» que logram criar um deus governável pelos líderes, um deus a quem se manda fazer, determinando já o homem a vitória.
Tais «organizações», evito agora chamar-lhes igrejas, parece que pretendem notabilizar a ideia filosófica segundo a qual Deus é a projecção exterior dos desejos do homem, não já como Feuerbach defendia, do desejo de perfeição do homem, mas de algo que o hedonismo económico e o anseio de prosperidade trouxeram nos últimos 30 anos do século XX, acentuando-se neste início do XXI de uma forma pouco normal.

Tuesday, August 04, 2009

apócrifo

para os companheiros j.t. parreira e brissos lino, com respeito

além da ambição de construir e espalhar prédios cada vez mais altos, fulano de tal gastou os anos tentando demolir o mito chamado jesus. estava às vésperas dos 90 anos e não tinha certeza de atingir seus objetivos, apesar da fortuna acumulada, das concorridas conferências mundo afora, dos artigos disputados pela imprensa. apesar, suspirou com um débil sorriso, contemplando o resultado de um trabalho que consumiu seus últimos 20 anos: estava em sua graphica - carinho com que distinguia sua tipografia -, e dava os últimos retoques na capa em couro de um evangelho apócrifo, em hebraico. de repente, não sabia se houve uma queda de energia ou sua visão falhara. mas o coração rugindo/miando/rugindo/miando no peito deu-lhe a certeza: estava morrendo. teve apenas o tempo de murmurarar um débil "jesus!".

samuca santos

Publicado no Recanto das Letras em 03/08/2009

Monday, August 03, 2009

A Visita

Trazia o corpo
arrastado nos sapatos
gastos, com uma história
de buracos negros sucessivos

Os seus silêncios
eram de incenso, o cheiro divino
do lume
e as suas mãos tinham dedos infrangíveis
para tocar as notas da chuva
que bate nos vidros

Trazia os olhos naturais
neles não havia fundo, vogavam
apenas como se espalhassem um perfume.

9/2/2009