Thursday, June 26, 2008

As Sagradas Escrituras não são mudas


«Se os textos não são interrogados, permanecem mudos», era a disposição geral no dizer de teólogos liberais, como Bultmann, perante a Bíblia. E tal interrogação, far-se-ia sob as formas mais diversas, sob um denominador comum: os métodos críticos histórico e morfológico.
Freud disse certa ocasião a Papini que ensinara «aos outros a virtude da confissão e afinal nunca pude abrir inteiramente a minha alma». Os teólogos liberais confessaram-se ruidosamente nos seus escritos, porque acharam que a Bíblia Sagrada estava muda diante das contextualizações que eram precisas- do seu ponto de vista- ser feitas na modernidade do Século XX.
Muitas obras fizeram ruído nesse tempo. Mas mais do que obras de exegese, eram instrumentos para colocar em causa os textos bíblicos, para os desnudarem das suas roupas riquíssimas do que é celeste, para os despojarem da sua espiritualidade.
A chamada Alta Crítica, a despeito de pretender ser honesta, teologicamente, para com o homem, acabou por levantar a sua voz contra o Divino, porquanto procurou apenas a Literatura nas Sagradas Escrituras, interessada em detectar fontes, tipos literários, questionando autores e datas.
É verdade que nem todos os Evangelhos apresentam a vida de Cristo duma forma teológica, procurando dar uma narratividade literária, somente o de João a apresenta de modo teológico, sobretudo. Diz-se nos meios teológicos académicos que o fez para que os leitores sejam salvos. Forma e conteúdo, todavia, estão intrinseca e espiritualmente ligados, por exemplo, nos textos sagrados evangelísticos. Estruturalmente jamais aceitaríamos ler os Evangelhos se nos fossem apresentados hoje sob a forma de romance. Diga-se o mesmo das Epístolas, onde conteúdo e forma são um corpo todo inspirado e inspirador pelo fôlego do Espírito Santo.
Perante as Sagradas Escrituras, afinal perante a sua totalidade, quem deve ficar em reverente silêncio é o Homem, e se deve falar é para interrogar como o carcereiro de Filipos, porque a Palavra de Deus é que nos questiona, nos desnuda, nos aponta o Caminho.


Texto publicado inicialmente in Confeitaria Cristã

Friday, June 20, 2008

Que Pássaros Cantam?

"Satan watching the caresses of Adam and Eve", William Blake, in Paraíso Perdido, 1808

Que pássaros cantam
no paraíso que perdi?

Que estrelas, nunca
definitivas, riscaram
num buraco do céu
a sua passagem?

Em que ramo
esqueci o fruto da vida?

Habito as alternâncias do tédio
e do ânimo, às vezes
uma casa de areia
onde mesmo assim existe
um trilho de flores silvestres.

Em que mina de ouro perdi
o olhar, que já foi um brilho
na noite?

Como é difícil ser bêbado
de silêncios.

20-6-2008

Friday, June 13, 2008

No silêncio húmido da noite

O pastor das nuvens

À noite o mar é o pastor das nuvens brancas do horizonte.Fá-las circular pelas pastagens do céu.”(Harry Martinson, “Comboio Camuflado”)

No silêncio húmido da noite
o espelho das águas reflecte
a imagem toda
o algodão branco do céu
as ovelhas de cima
dispensam o som de flauta ou harpa
pastoril
nada como olhar para baixo
antes de adormecer
e ver a imensidão bela do pastor
à luz da Lua
sempre lá.

Palmela, Junho de 2008

(© Brissos Lino)

Saturday, June 07, 2008

O Tempo que passou

Poema publicado na revista A Seara, da Casa Publicadora das Assembleias de Deus do Brasil, em Dezembro de 1971. Com «Poema de Natal» chamou-se a atenção para a Nova Poesia Evangélica e para o jovem poeta. A mesma revista, em Maio de 1972, trazia um artigo crítico, de análise, e de boas-vindas a esse trabalho para os meios literários evangélicos em língua portuguesa, assinado por Joanyr de Oliveira.